11.8.19
15.7.19
DELÍRIOS NA RUA DO SOL
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A ALDEIA DA FONTE BRANCA
Licínia Quitério, em "A Aldeia da Fonte Branca", a publicar
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OS OLHOS DE AURA
Licínia Quitério, em "Os Olhos de Aura", 2017
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A METADE DE UM HOMEM
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28.2.18
A GENTE VAI
A gente vai e abraça os conhecidos e mais os outros que aparecem para uma conversa sobre a vida e sobre os livros e os projectos de mais vida e de mais livros. São falas em várias línguas, em redor de uma mesa, onde se vai comendo e falando e falando mais do que comendo, não porque as iguarias não sejam boas, mas porque todos têm vontade e pressa de falar. Todos menos eu que oiço mais do que falo, por condição e defeito e também porque me encanta ouvir o que dizem, procurar entender todo um vocabulário muito rico de construções e modulações, numa orquestra a muitas vozes, muitos risos, muitas exclamações.
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26.2.18
OS VENTOS
Estão por toda a parte. Altos, esguios, com suas três velas atraindo os ventos. Erguem-se em bandos cada vez mais numerosos. Quando escurece, acendem um olhito não vá algum avião ou avejão com eles embater, trucidar-se. São afinal ventoinhas gigantes, altivas, de corpos anoréticos, rodando, rodando, enxameando colinas, relevos, zumbindo, zumbindo. Ao pé delas, os velhos moinhos de vento e farinha parecem anõezinhos reformados, saudosos dos seus tempos de convívio diário com os homens, seus donos e companheiros de labuta. Chamavam-lhes moinhos de vento. Dos novos, para que algum passado lhes seja conferido, dizem que são eólicos. Velhos, novos engenhos. Só o vento é o mesmo, caprichoso, suave, arrasador, genioso, invisível, eterno como a vida. Licínia Quitério |
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20.2.18
PESAVA, SE PESAVA...
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27.1.18
UMA PEQUENA ALDEIA
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21.12.17
O POÇO
Na praia um poço de oiro. Viram-no, as gaivotas. Uma delas
bebeu um golo da súbita incandescência. A pele do mar ganhou escamas miúdas de
luz e sombra. A areia ruborizou-se ao receber certa hora dos mágicos. Foi o
solstício e eu estive lá. Licínia Quitério |
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15.12.17
OS MICROCOSMOS
Em pequena eu construía jardins, miniaturas de jardins. Uma pétala era uma flor, um pecíolo um tronco de árvore, uma folha podia ser um lago, que um jardim sem lagos não é jardim. Folhas secas esmagadas desenhavam caminhos por entre aquela vegetação toda. Eu preocupava-me com a simetria dos canteiros, por isso os meus microjardins pareciam-se com os jardins barrocos, digo eu agora. Eu gostava de construir mundos pequeninos onde me pudesse passear sem ser levada pela mão. Mundos sem os perigos que os adultos temiam. Revolvia a terra com as mãos na cata de pedras minúsculas, de preferência de várias cores. Ocupava muito tempo a limpá-las e depois a construir com elas cidades pequeninas. Uma pedra uma casa, outra pedra outra casa, muitas casinhas. Só faltavam as pessoas, ou não faltavam, porque às vezes eu podia vê-las, muito apressadas, de casa em casa. Algumas corriam e eu só não podia saber de que cor eram os olhos delas, porque isso era muito difícil de pensar. Também gostava de ver as minhas cidades vermelhas, com pessoas vermelhas, que subiam e desciam e saltavam nas brasas da lareira. De manhã já não havia ninguém nessas cidades que passavam a ser escuras, sem graça, e eu queria mesmo era saber para onde tinha ido toda aquela gente que eu tinha visto ao serão. Os meus jardins cresceram, as cidades também, e hoje sei que há de facto cidades vermelhas de gente viva e cidades escuras de gente morta. Sei, e por isso, sempre que olho o fogo na lareira, volto a admirar aquela gente pequenina numa grande azáfama, a subir, a descer, a saltar. Às vezes adormeço e quando acordo a lenha já não arde. Levanto-me sem olhar para a escuridão das cidades, quero dizer, da cinza na lareira.
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26.11.17
A SECA
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23.11.17
NOITE
O rodado dos carros na rua produz agora um ruído abafado, a evidenciar a lâmina de água que se interpõe entre o asfalto e a borracha. De o ouvir, adivinhamos os salpicos que vão saltando das rodas. Se alguém passar na berma dos passeios, talvez os sinta nos pés, no fato, e se afaste a evitar o incómodo. A luz dos faróis acende a poalha de chuva que vai caindo, oblíqua, mansamente. Os habitantes dos carros entrarão em casa desejosos de conforto, de lume, de comida cheirosa. Calçam chinelos, esfregam as mãos e dizem, até que enfim a chuva. São felizes os humanos que neste momento imagino. Tem de haver gente feliz para que as histórias não morram. Licínia Quitério |
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13.9.17
6.8.17
MISTER BROWNE
Numa dessas conversatas, preparei atalhos para lhe perguntar o que pensava de Hiroshima. Mister Brown retorceu as pontas do bigode, disse ahm, ahm, como dizem sempre os americanos a iniciar as frases, e, perante o meu olhar a filar a resposta, pausadamente, muito pausadamente, ahm, ahm, Maria, Truman fez o que tinha de ser feito, para evitar muito mais mortes. Assim, sem um lamento. Percebeu que eu não estava confortável. Disse, yes Maria, awful, sure Maria, war is awful.
Passaram 72 anos sobre um dos maiores crimes da humanidade e todos os anos por esta altura recordo Mister Browne, a água límpida da sua piscina, o seu pragmatismo a falar de Hiroshima.
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1.8.17
ARQUITECTURA
Gosto quando
a arquitectura nos diz de encontros e desencontros, de gostos, funções, testemunhos
de muitas e variadas ordens de sucessivos mandantes, e nos deixa perplexos na
procura de um fio que nos conduza e nos conte histórias de destruições, de
cataclismos, de faustos e misérias e básicas utilidades. A segurar a história
estão as pedras, as dos tempos muito antigos, as de hoje, e a juntá-las a cal,
a cobri-las a tinta. Da gruta à pirâmide quanto caminho andado, quanto deserto
nascido. Do palácio à choupana, quantos amores vividos, quanta fome, quanta
sede de mar. De tudo isto me alimento
quando inauguro um sítio escuso, algures, na torreira da tarde, onde ninguém se
demora, que ninguém guarda na memória.
Licínia Quitério
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22.6.17
O MEU PAI
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3.6.17
A VELHA VIZINHA
Tocou à campainha. Vinha de robe azul claro, chinelos de tiras, os braços apoiados em canadianas, e tremia e dizia, desculpe, desculpe, eu estou muito aflita, se a senhora me fizer o favor de me ajudar, o telemóvel, não percebo de telemóveis, quero telefonar ao meu filho, ele ainda não apareceu hoje, estou muito aflita, não consigo ligar-lhe, aparece um cadeado, eu não percebo nada destas coisas, se a senhora puder. O meu marido, o meu marido desapareceu está maluco de todo, tem Alzheimer, saiu e ainda não voltou, deixou a casa toda por arrumar, o lixo espalhado e eu nesta desgraça é que tive de juntar tudo, ai se a senhora puder.
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30.5.17
A MULHER DOS SÁBADOS
Aparece aos Sábados, o dia da folga, presumo, de trabalho precário, de salário pequenino. Isto a avaliar pela qualidade da vestimenta, dos sapatos, pelo saco dos pertences. Tudo nela é sinal de escassez de meios, de solidão de fim de semana.
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1.5.17
27.4.17
UM CASAL TRANQUILO
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23.4.17
O LIVRO
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21.4.17
DONA TELA
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5.4.17
PRIMAVERA
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31.3.17
AGITAÇÕES
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29.3.17
A MULHER
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17.3.17
HISTÓRIAS
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11.2.17
A MIÚDA
A miúda passava todos os dias, à mesma hora, defronte do
café dos velhos que a seguiam com olhos saudosos de juventude. A miúda não
reparava neles, ia sempre apressada, segura de querer chegar onde a esperavam.
Foi assim até ao dia em que a atenção dela foi tocada por um baque surdo e uma
vozearia de aflição. Virou-se, deu uns passos atrás, perguntou, precisa de
ajuda. Ajude-me a levantar, menina, estes velhos não conseguem. Ela sorriu,
abraçou-o pelas costas e ergueu-o. Estava pálido, ela só se foi embora quando o
viu sentado e a beber um copo de água. Os outros velhos diziam frases
desgarradas, que coisa, tu vê lá, estás bem, ó pá atiraste-te para o chão para
a miúda te agarrar, cala essa boca.
Entre dois golos, ele só disse, baixinho, para ela não
ouvir, é tão bonita
.
Licínia Quitério
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5.2.17
4.2.17
VENTO
"De vez em quando todos precisamos de algum vento nas costas." - no filme I Daniel Blake, de Ken Loach. |
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15.1.17
JOANETES
A Dona Cândida tinha joanetes. Era para onde eu mais olhava quando ela vinha fazer a sua visita anual. A Dona Cândida passava o Verão em casa da minha avó que lhe cobrava uma quantia simbólica pelo alojamento e que a Dona Cândida fazia questão de pagar, coitada da Dona Adelina, era o que mais faltava, bem basta o favor, é só para a água e a para a luz. A Dona Cândida era solteira, solteirona, diga-se, que já ia avançada na idade, uma velha muito velha, no meu entender de criança .Vivia para os sobrinhos que eram as pessoas mais inteligentes, mais bonitas, mais bem educadas deste mundo, filhos da sua irmã e do seu cunhado, só poderiam ter saído assim, umas jóias. Na minha família e em famílias amigas, os sobrinhos da Dona Cândida eram motivo de muitas citações e boas risotas. Estou a vê-la, com o lenço de seda amarrado debaixo do queixo, a cobrir o cabelo ralo que à noite prendia com uma rede, segundo a minha avó contava. Voltando aos joanetes, que eu até então nunca tinha visto, aquelas redondezas a saírem por entre as tiras dos sapatos, de presilha em volta do tornozelo e salto de pião, prendiam-me a atenção e cheguei a pensar que atrás da redondeza um dia apareceria o dedo todo, coitado dele, forçado à contenção pelas tiras de couro beije. Na família e nos amigos, comentavam-se os exageros da Dona Cândida, não só no que às virtudes dos sobrinhos diziam respeito, mas também às suas histórias de pretendentes rejeitados que ninguém conhecera, entre os quais ela contava o príncipe Dom Afonso que um dia, passando de carruagem no Rossio, lhe tinha quase atirado com os cavalos para cima, só para lhe chamar a atenção. A Dona Cândida devia ser muito velha mesmo, visto que se referia ao tempo dos reis, sua majestade para cá, sua alteza real para lá, num embevecimento que lhe punha um sorriso desajeitado no rosto a que a minha mãe, irónica, chamava “cara de grão-de-bico”, mas isso eu não podia repetir, nem pensar. Guardo o cheiro do pó de arroz da Dona Cândida, um cheiro doce e velho, como ela, menina para sempre, a efabular histórias dos seus namorados sonhados, tia extremosa dos queridos sobrinhos, que nos visitava nos meses de Verão, chegada da grande cidade com que eu começava a sonhar.
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O PESO
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12.1.17
MEDOS
Ela tem medo. Do dia, começou menos mal, mas nunca se sabe como acaba. Da noite, não se vê livre das insónias. Deste Verão quente como não há memória, a calamidade dos incêndios que nada poupam. Deste Inverno, morno, só pode trazer o diabo no ventre, as gripes que o digam, para não falar nas pneumonias.
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11.1.17
SOL DE INVERNO
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7.1.17
AS MENINAS
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6.1.17
DIA DE REIS
foto da net
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2.1.17
GATO PINGADO
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1.1.17
SOBREPOSIÇÕES
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30.12.16
BOAS ENTRADAS
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28.12.16
A LOUCA MANSIDÃO
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