Agita as mãos e, a segui-las, os braços. Roda os ombros e
com eles o tronco, a aproximar-se e a afastar-se das costas da cadeira. A
cabeça também roda, roda, para um lado, para o outro. Cruza os dedos, não os
prende, em leque os faz abrir e fechar, abrir e fechar, a tocarem um teclado
que só a mulher saberá se existe. Os pés balançam, a um palmo do chão, batem um
contra o outro, para logo poisarem e logo saltarem, alternadamente. Uma das
mãos no queixo, depois no nariz, na orelha, no cabelo, a afagar, a apertar, a
puxar, a ajeitar. Cruza as pernas, descruza-as, a direita sobre a esquerda, a
esquerda sobre a direita. A mulher que observo fala, fala em contínuo, e a voz
dela também se agita, ora em murmúrio quase inaudível, ora em estridência
breve, ora num fraseado monocórdico, acometido aqui e ali por uma espécie de
soluço. Interrogo-me. Como será esta mulher quando dorme? E quando faz amor? E
quando está sozinha, sem ninguém que a oiça, perdida no seu corpo desamparado?
Volto a observá-la. Quando ri tapa a boca com a mão, a reprimir o riso, sem
reprimir a dança do corpo. Frenética, neurótica, hiperactiva, que classificação
dar a esta mulher, em que escala, com que justeza? Qual o seu grau de
felicidade, a tal que não se pode medir? É uma mulher, é uma mulher que fala
acompanhada do ritmo alucinado do seu corpo. É uma mulher, uma mulher que eu
observo e desconheço.
Licínia Quitério
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