A seca é real, palpável, triste. A gente lê os jornais e
percebe que há animais a morrerem de fome, outros não se reproduzem, outros
abortam, adoecem, porque sem água não há pasto. Os peixes não conseguem subir
os rios porque estes não levam água que chegue e não farão a reprodução. Os
pescadores de rio perdem os seus proventos, tal como os barqueiros de
travessia, porque os rios se atravessam a pé. Da torneira continua a correr
água, no supermercado continua a haver hortaliça, e nós, os urbanos do litoral,
somos levados a acreditar que há nisto tudo um exagero, que a chuva há-de vir,
que não há-de ser nada. Que sabemos nós da Natureza, da Vida? Há muito que
esquecemos. Talvez os vindouros tenham que reaprender o que esquecemos, na
melhor das hipóteses.
Licínia Quitério