A minha vida já muito longa retira-me
por vezes a humildade de perceber que viver muito nem sempre é sinónimo de
pensar muito, nem tão pouco de pensar bem. Acontece por isso dar comigo a
dissertar sobre temas para os quais me julgo muito informada, com ideias
prontas, e afinal esbarrar com asserções tremendamente válidas, quantas vezes
ao arrepio das minhas frágeis convicções. Porque a minha interlocutora me é muito
querida, não sinto qualquer incómodo, antes admiração e contentamento por saber
que depois de mim virá gente muito melhor, muito mais bem preparada do que eu
alguma vez serei. A isto chamo o real progresso da humanidade, em que acredito,
sabendo embora dos inevitáveis retrocessos. Como sempre, as mulheres e os
homens de inteligência e honestidade não serão a maioria, mas serão eles e elas
que levarão por diante o aperfeiçoamento das sociedades em bem estar e bem
saber.
Tenho a sorte de ter gente assim com quem trocar umas ideias, sem tempo
medido, sem agenda nem sumário.
Licínia Quitério