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15.8.14

IMPRENSA REGIONAL



Houve o Jornal do Fundão, houve o Notícias da Amadora, houve o Diário do Alentejo, houve o Comércio do Funchal e outros jornais regionais à frente dos quais estava gente culta, e cujos corpos redactoriais eram formados por pessoas que liam e escreviam bem. A censura massacrava-os, perseguia-os, suspendia-os, prendia directores e jornalistas. Eles lá continuavam, sem nunca abdicarem da qualidade da notícia, da divulgação cultural, sem cederem ao popularucho e ao beato que era apanágio de outros jornais, abençoados e benquistos pela Igreja e pelo Estado Novo. 

Foram esses jornais veículo de informação honesta e desassombrada, de artigos excelentes, de bons autores, do melhor que a sociedade civil produzia e divulgava.
Esperar-se-ia que, depois da chegada da Liberdade, essa imprensa regional vingasse, crescesse, alargasse horizontes. Sonhos de Abril que não passaram de sonhos. Como em tantos outros ramos do jornalismo e da cultura em geral, regressaram os pasquins, entregues, salvo raras excepções, a gente que mal sabe escrever e que não faz a mínima ideia do que é jornalismo ou então a uma direita beata e reaccionária, catequisante e castradora. 
Não serei a pessoa indicada para bem abordar este tema, felizmente sujeito a controvérsia, mas não quis deixar de a ele me referir, até porque conto, na minha história bem longa, a amizade com um censor, redactor do ex-Secretariado da Propaganda (SNI). A ele cabia censurar exactamente a imprensa regional, seguindo as regras estúpidas dos seus superiores. Ora quantas vezes assisti a essa tarefa e quantas vezes consegui convencê-lo a não cortar isto ou aquilo. O Jornal do Fundão, do saudoso Paulouro, era então uma vítima de eleição. Com o atrevimento que a mútua amizade consentia, dava-me ao luxo de dizer: Ó Homem, deixe lá passar isso, não acha que é mesmo uma estupidez? E ele, embora medroso de represália, lá deixava passar, dando algum descanso ao lápis azul. 
Entendem, por certo, o meu desgosto quando, ao visitar uma terra, procuro o jornal regional e dou quase sempre com a maior miséria e iliteracia, que é um eufemismo para analfabetismo, penso eu.

Licínia Quitério

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