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15.8.14

ESCREVER




Uma pessoa faz a vida com tudo o que lhe cabe fazer, tem gostos, desgostos, desejos, frustrações, amores, desamores. No fundo de uma certa gaveta, vão adormecendo escritos, versos, desabafos, ficções, uma amálgama de letras, de palavras, em desordem, em revolta. Depois de tudo, surge na sua frente um tempo breve que precisa de preencher, de justificar, de enfeitar com o melhor que lhe ficou. É um tempo de desassossego, de atrevimento, de interrogação, de desacerto, uma vez mais. Pode então acontecer que encontremos quem nos faça um pequeno aceno e nos ponha ao de leve a mão no ombro, a dizer: Vai, continua, és poeta. Acreditamos na sinceridade, mas não na nossa capacidade. A verdade é que tudo começou nesse instante. A gaveta foi remexida, a escrita cresceu, fez-se hábito e vício. Os livros foram aparecendo, outros talentosos amigos elogiando, dando força. Cada vez são mais e a minha gratidão é infinita. Não desejo nada além de bons leitores, por poucos que sejam, e tenho-os, fiéis e generosos. Se ainda houver tempo, outro ou outros livros aparecerão. Se não, sou já uma mulher feliz que pegou na memória dos sentidos e, de pé sobre o silêncio, alongou o seu tempo breve, nomeou os seus sítios e assim vai preenchendo o espaço ainda livre do seu disco rígido.


Licínia Quitério


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