De passagem por Arcos-de-Valdevez, alargando a curiosidade
por ruas antigas e estreitas, de belas varandas de ferro forjado, engalanadas
de vasos de gerânios e petúnias, despertou-nos a curiosidade a porta aberta,
por cima da qual um papel dizia ser ali A Tasca do Delfim e Museu do Acordeão.
Franqueámos o degrau, lá de dentro veio um fresquinho a calhar no dia tórrido,
e perguntámos se podíamos ver. A voz de mulher, no seu inconfundível sotaque
minhoto, a afirmar que sim, façam o favor, vejam, vejam, sentem-se, tomem uma
bebida, a ginja é uma delícia. Ficámos e percebemos que estávamos rodeados e
encimados por uma profusão impensável de objectos, a cobrirem as paredes, a
penderem do tecto. Um sem número de acordeãos, ao longo das prateleiras, testemunhas
de lugares e tempos vários, por onde e quando o senhor Delfim tinha tocado.
Muitos oferecidos, outros comprados, assim foi nascendo o Museu. Pessoa muito
conhecida, o Senhor Delfim, marido da Dona Maria, já não toca por aí. Agora
quem toca é o filho que lá está numa foto com o Senhor Malato, pois foi há
pouco à televisão, sim, como a senhora pode ver. Por entre postais, flores de
plástico, maçarocas de milho, miniaturas de alfaias, cabaças, santinhos, e tudo
e tudo que se possa imaginar, deparo com fotos do Senhor Delfim, ali mesmo em
sua Tasca/Museu, com Dona Amália Rodrigues e o Senhor Eusébio. Por mero acaso,
fui eu então parar a um lugar de culto, uma riqueza de história de como vivem e
tocam e cantam as gentes do Minho. A Dona Maria é uma Senhora linda, no seu
traje garrido, a sua cabeleira ondulada, do genuíno loiro do Norte, a sua pele
branca, o seu oiro galhardo, o seu sorriso de puro contentamento, ali sentada, a
responder a perguntas formuladas à pressa por quem aparece sem saber o que
encontra. Perguntei-lhe se a podia fotografar, pode sim, senhora, à sua
vontade, com muito gosto, tire as fotos que queira, a tudo, e a mim, e endireitou-se
mais e encarou a máquina.
Aqui fica o que registei da minha visita improvável à Tasca do Delfim/Museu do Acordeão,
ali ao Norte, nos Arcos. Se passarem por
lá, não percam.
Licínia Quitério
Licínia Quitério
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