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20.12.14

EUFRÁZIO FILIPE

NOTA DE APRESENTAÇÃO DO LIVRO "PRESOS A UM SOPRO DE VENTO", DE EUFRÁZIO FILIPE 

Como dizer a obra de um Poeta, senão com as suas próprias palavras? Tarefa nada fácil para mim que me habituei a lê-lo e as tomei tantas vezes como se minhas fossem. Ponderadas as possíveis abordagens, decidi que o melhor seria pedir emprestados ao Poeta pelo menos alguns dos substantivos e verbos com que tece a malha inconfundível dos seus versos, para tentar explicar como sinto, porque sinto, a sua Poesia. 
Assim vos digo que uma pessoa se depara com um poema de barcos como viagens, e pássaros debicando romãs, e mulheres que são praia, e sabe logo que é do Mar Arável, melhor dito, do Eufrázio Filipe. O poeta deixa a sua marca original por onde passeia o verbo e o oferece generoso à nossa sede de marés vivas.
É uma doçura, uma leveza, que guarda, contra todas as aparências, o amargo dos dias dos homens e das mulheres que os habitam. Poemas de amor e de luta, os dois vectores indissociáveis do seu pensamento, pois que para ele são uma e a mesma coisa. Nos poemas de Eufrázio há aquela pincelada desgrenhada de azul com que marca o seu blog, com que se assinala a si próprio, numa constância de desejo, numa sensualidade que fica sempre um passo aquém do banal erotismo, numa notável contenção de palavras, pois bem sabe o poeta quão preciosa é a síntese, quão difícil de alcançar. Lê-se como se deslizássemos num chão sonhado, de onde se levantam nomes que podem querer dizer escarpa, ou pátria, ou mulher, porque as palavras para Eufrázio são também subversão, alegoria, grito, que só o leitor sensível e desperto pode perceber, pode receber. São de fogo os seus pássaros, são de loiça os seus cães, são de vento os seus barcos que constantemente partem e chegam, e chegam e partem, num rodopio de vida, numa busca inacabada de flores e de brisas, personagens de um drama poético que se desenvolve e envolve o leitor na aventura de sonhar. 
Lê-se Eufrázio como se navegássemos com ele nas tardes e madrugadas dos seus poemas, nos suaves acenos de uma pestana, de uma pena, de uma vírgula, como sinais, como marcos, da viagem dos seus livros que semeia ao ritmo do semeador, com a segurança do caminhante, com o pudor inconfessado do amante. Há silêncio e canto, desespero e esperança, dor e alegria nas suas praias infinitas, nas ondas de saliva ou de espuma, nas romãs que sangram, no alto das ramadas onde se hasteia o beijo.
Poemas que nos interpelam, com o tu que nos faz cúmplices da sua chamada, e nos deixa a pensar quem somos, se somos nós afinal que com o poeta devemos lançar os barcos, acender as escarpas, semear o pão, fazer calar os cães, desgrenhar as asas dos pássaros, soltar a âncora, rumo à praia onde nos espera, para além de todos relâmpagos, a mulher vestida de nudez com que o poeta se entende, se confunde, de seu nome Liberdade.
Obrigada pelas palavras que me emprestaste, Poeta. Aqui tas devolvo para continuares a caminhada, arando o mar como se terra fosse, sem amos nem amarras. 

Licínia Quitério

Seixal, 7 de Novembro de 2014

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