A minha relação estreita com os gatos vem desde há muito, já
que quando nasci havia um gato lá em casa e eu fui crescendo a brincar com
ele. Houve gatos nas minhas várias casas, assim como houve
plantas vivas, em pequenos espaços abertos. Gatos que sempre viveram em
liberdade, ausentando-se de casa por tempo indeterminado, cumprindo os seus
rituais de namoro e acasalamento, correndo os riscos que a vida livre implica.
Trato-os quando adoecem, mimo-os sem exageros, fico triste quando morrem. Não
lhes ponho coleiras nem chips. São gatos-gatos, sem pedigree, sem raça que nome
tenha. Nunca comprei nem vendi um gato. Dão-mos ou são eles que vêm ter comigo,
pela janela, pela porta, escolhendo-me, percebendo, no seu instinto apurado,
que comigo não lhes faltará comida e bom trato. À medida que envelheço, vou
ficando mais tolerante com eles, permitindo-lhes estragos em sofás, em vasos,
acalmando a fúria pela sua teimosia, a sua gulodice, cedendo mais facilmente ao
fascínio dos seus olhos onde ainda dorme a fera que um dia foram.
Faz hoje um
ano que chegou a minha casa o Tigre, recuperado do abandono a que o votaram,
com uns dois meses de vida. Se não fosse ele, não teria escrito este texto.
Vários gatos têm habitado outros textos meus. São inspiradores, provocadores,
indomáveis, independentes.
Nunca fui dona de humanos e também não sou dona de
gatos. Uns e outros chegam e partem e, cada um à sua maneira, deixam uma
história, uma lembrança, uma indelével marca de Vida.
Licínia Quitério
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