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28.10.14

MORTES ANUNCIADAS



Eles matam-nas e matam também os filhos.
Elas calaram-se, esperaram que eles mudassem, não fugiram porque têm os filhos e não sabiam para onde ir.
Elas fugiram e pediram abrigo e continuaram com medo deles.
Elas voltaram um dia para eles que prometeram não tornar a bater-lhes, mas bateram, cada vez com mais força.
Elas não suportaram, pediram o divórcio, eles sairam de casa, elas julgaram-se a salvo, mas eles apanharam-nas na rua e mataram-nas e também mataram os filhos que tentaram protegê-las.
Elas têm vergonha que a família saiba, que os vizinhos saibam, elas gostam deles, elas sentem-se culpadas porque falaram com outro homem, elas sentem-se culpadas porque pensaram em fugir.
Eles têm ciúmes, eles não aceitam perder o processo de divórcio, eles vivem com outras mulheres, mas querem matar aquela.
Os políticos sabem, os vizinhos sabem, as famílias sabem, na polícia sabem, no hospital sabem.
Todos esperam a tragédia, todos sabem que um dia eles as matarão. Todos esperam as mortes anunciadas.

Licínia Quitério

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