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27.11.10

SINTRA

Não tarda que desça o véu de brumas cinzentas a ocultar recortes de castelos e conventos nos cumes da serra. Choram os penedos e o manto líquido escorre encosta abaixo, mansamente, dissolvendo os tons das velhas casas, dando um novo brilho às folhas ainda presas nas árvores do outono. Por todo o lado, ganham forças novas as trepadeiras nos seus abraços seculares aos muros, às paredes das casas. Espiam as janelas, as falta dos vidros, as falhas das madeiras, e deitam contas ao tempo de aventuras nos interiores das salas vazias de gente. Antigos lampiões, enferrujados, aguardam a noite, seu palco de brilhos de uma última velhice. A Lua, sua única rival, senhora da serra, erguer-se-á, uma destas noites, serena e pálida, e cobrirá de prata todos os verdes, todos os muros, todos os caminhos de serpente. Alguém se há-de perder nas cruzes das veredas e caminhará, em frente, sempre em frente, até ao novo dia. Retirada a Lua para a sua casa do céu, o caminhante terá a alvorada mais clara de todos os seus dias. Descerá a serra com o novo saber no coração. É sempre um outro o homem que se perde na serra e a desce ao amanhecer.

Licínia Quitério

1 comentário:

M. disse...

Já por aqui vim várias vezes à procura de novidades que não havia. Ora hoje encontrei-as. Ainda bem, que gosto também de te ler neste estilo. Pois, tenho vindo desde lá de baixo, devagarinho...

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