O gato entrou de rompante e logo invadiu a mesa, estonteado,
a afirmar que eu tenho de escolher entre ele e o ecrã, por momentos que seja.
Passo-lhe a mão pelo lombo, a tentar sossegá-lo e a pedir que se afaste. A mão
sente o pelo molhado, borrifado apenas, e percebo assim que começou a chuva lá
fora. É um "gato-meteo", penso. Diz-me do sol escaldante com a
quentura do corpo esguio e luzidio, do vento, quando o pelo se dessarruma e
arrepia e o gato parece mal-disposto. Posso saber de todas estas condições se
olhar pela janela da frente e vir como se vestem e comportam os passantes,
posso olhar pela janela das traseiras e observar a pele das plantas, brilhantes
de sol, molhadas de chuva, agitadas de vento. As pessoas, as plantas, o bicho,
o meu universo de sensações e entendimentos.
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