Um cão ladra continuadamente em Nice e eu oiço-o aqui, quase
em simultâneo, na minha bancada de observar o mundo. Ontem ao serão, ouvi
distintamente, também "em directo", como costuma dizer-se, o tiroteio
na Turquia. Tudo acontece em ricochete na minha bancada. O mundo encolheu, não
há lonjuras, um homem grita na outra metade do paralelo e eu oiço-o, eu entendo
a sua língua que é já a mesma, planetária, interplanetária. Todos os segredos
podem ser violados, mesmo ainda dentro das nossas cabeças. É o admirável mundo
novo. Um cão ladra em Nice, e eu, à beira da bancada, abro os olhos, os
ouvidos, o espanto, e não entendo, não entendo por que razão aconteceu este
medo que perpassa no mundo, "em directo", como costuma dizer-se.
Licínia Quitério
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