Todos os anos a minha buganvília, depois de intensa
floração, definha, seca, reduz-se a troncos lenhosos e aparentemente inertes.
Por dentro de mim, sempre corre um leve gemido, que não é choro, é um lamento
seco pela perda esperada da planta que vive há muitos anos de raízes apertadas
no maior vaso que consigo dar-lhe. Resiste a minha esperança de que ainda não
seja definitivo o abandono, a desistência, e por isso continuo regularmente a
regá-la enquanto, em silêncio, lhe peço, não vás.
Não foi ainda desta vez. Ontem, alguém me chamou, venha ver,
venha ver. Fui. Aí espreita já a nova vida da minha buganvília. Vai dar-me
novos troncos, novas folhas, novas flores. Ano após ano, o desafio prolonga-se,
nós as duas acrescentando o calendário, ainda não, ainda não, e a cores da vida
a reflorirem. Ainda.
Licínia Quitério
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