Ao ler no Público, no seu suplemento FUGAS, um artigo de
Andreia Marques Pereira, sobre Cartagena das Índias, relembrei o lugar onde, por graça da
vida, me encontrei vagueando durante um dia de não muitas horas. De tudo o que
vi e ouvi, senti Gabriel García Marquez e os seus personagens, especialmente os
de Amor em Tempo de Cólera. Procurei avidamente o balcão de Fermina Daza e o
trote do cavalo de Florentino Ariza. Apesar da avalancha de turistas e
vendedores ambulantes, não me foi difícil perceber a paixão de Gabo por aquele
lugar, a cidade violenta e vitoriosa como lhe chamou. Das arcadas do antigo
mercado de escravos ao palácio-museu da Inquisição, às cúpulas renascentistas,
da mansidão do grande relógio à pressa do guia, foi quase uma tontura que me
permitiu pensar no escritor que nos ofereceu o deslumbramento do realismo
mágico, com as cores vivas dos muros, a quentura das brisas, a lentidão suada
das gentes assoladas por piratas de tempos vários. Voltei lá hoje, lendo. Não
preciso de voltar. Não devo. Seria já outra coisa.
Licínia Quitério
|
Sem comentários:
Enviar um comentário