Jesus Veredas Bicho foi sempre enfezadito. Padeceu de todas as doenças que dizem ser próprias da idade primeira, mas nunca o seu sangue se viu livre dos maus humores que deveriam ter sido expurgados pelo sarampo, sarampelo que sete vezes vem ao pelo. Até as danadas das bexigas doidas acorreram a esculpir-lhe o rosto de pequeninas crateras lunares. Quanto aos olhos, nem é bom falar. Jesus sempre fora um cachopo de vistas curtas. Perguntava amiúde: onde é que está isso? E os olhos, cansados do esforço infrutífero, viravam pequenas frestas, alongadas por rugazitas precoces. Os adultos impacientavam-se: Se fosse bicho, mordia-te. O rapaz parece que é cego. Tanto não seria, mas quando chegou à escola e a professora reparou que Jesus encostava o livro à ponta do nariz para poder relatar o que nele encontrava, chamou o pai e sentenciou: Trate de arranjar depressa uns óculos para o seu filho, que tem uma miopia enorme. Faltava mais esta. O raio do rapaz só dá é despesa. O médico receitou-lhe uns óculos de lentes grossas como fundos de garrafa. Por detrás delas, passaram a rolar os olhos redondos e brilhantes como contas desenfiadas de um colar de fraco préstimo.
continua...