Não me perguntem qual o nome, o dos botânicos. Para mim
chamam-se craveiros-do-ar. Foi assim que conheci os seus antepassados,
pendurados num ramo da pereira de peras pardas, no quintal da minha avó. Para
meu espanto, eles multiplicavam-se e floriam e só bebiam a água da chuva e
comiam o que o ar lhes trazia, que eu não podia ver, mas eles viam de certeza.
Os craveiros-do-ar mudaram-se do quintal da minha avó, quando ela também se
mudou e foi viver como os craveiros, era o que eu queria acreditar, da água da
chuva e do que o ar lhe desse. Mudaram-se e foram viver na vedação de grades
do quintal da minha mãe, onde tiveram muitos filhos que iam florindo e
enfeitando a pouca graça da vedação. Quando a minha mãe foi viver como eles e
como a minha avó, da grande água e do grande ar, eles passaram a viver nos
muros do meu pátio e a dar-me as flores garridas que me fazem lembrar, sei bem
porquê, o gosto das peras pardas.
Licínia Quitério |
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