A vida passa, a gente vai andando, vai sendo outra,
ganhando, perdendo, deixando para trás tempos, lugares, histórias, pessoas que
vamos esquecendo, enquanto outras entram no nosso patamar, na nossa mesa, nas
nossas preocupações, para outras chegarem e se sentarem connosco nos mesmos
livros, nas mesmas salas, com as mesmas vozes. A vida passa e de repente
aparece-nos um rosto que não reconhecemos, que nos chama pelo nome, que nos
trata por tu como se fosse ontem que tivéssemos deixado a carteira da escola em que fomos
meninas, ela morenita, eu branquinha, como ela diz, ela que se lembra de tanta
coisa que eu esqueci na voragem dos anos. Pouco a pouco, revejo-a, vou dizendo
nomes que julgava perdidos, vamos, a duas vozes, refazendo o quadro que
vivemos, há tantos anos, há tantos sonhos. Certificados de vida estes
encontros, nascidos numa idade em que nada sabíamos das mulheres que haveríamos
de ser, ainda assim de pé, num abraço, sem porquê a não ser o desejo dela de
vir ao encontro do meu nome que nunca esqueceu.
Licínia Quitério
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