Ó i ó ai, vou comprar um mangerico...
O que eu gostava das
marchas, e dos tronos, e da sardinha assada, e do requebro na cintura dos
marchantes, e das letras tão previsíveis, e das zaragatas de vinho e mau
feitio, e do Ary a dizer poesia, já com muito vinho e mau feitio, mas que bem
ele dizia, e nós em fila, de mão no ombro do da frente, e polícia fardada e à
paisana, e nós a ensaiarmos canções de liberdade ao ritmo da marcha, e a
rirmos, nós nessa altura ríamos do que havia e do que esperávamos que houvesse,
e havia o amor que nos assaltava num larguinho de Alfama, e nós ríamos e
sabíamos que era um amor de acabar quando a festa acabasse, abril ainda estava longe e nem sequer
sabíamos que se chamaria abril, e hoje deu-me para recordar a minha Lisboa,
que hoje tão mal conheço, depois de tudo o que passou, nas ruas da cidade, nas
minhas próprias ruas.
Ó i ó ai, vou comprar um mangerico...
Licínia Quitério
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