Pobre senhora desacertada, velha, suscitando sorrisos complacentes, com as suas vestimentas exóticas, os seus risos sincopados e estridentes. Não é tão evidente o seu desacerto porque os dias são de gente fora de catálogo, de tantos e tão variados modos e falas, procurando-se, lançando linhas ao lago vazio de peixes, talvez escondidos no fundo, lá bem no fundo, que oiçam, a seu modo, os pedidos de ajuda, de companhia, de esperança.
Pobre senhora, a atirar frases aos que lhe falam e aos outros que não dão por ela, a ficar magrita, daquela magreza a assinalar os ossos.
Senhora que parece perdida de um mundo que terá sido o seu, alvo de sorrisos e também de carinhos inesperados, de atenções à sua saúde, às suas rotinas implacáveis. "Calcitrin", só toma um por dia, avó, diz a neta que o não é, obediente aos mercados, atentos sempre ao bem estar dos ossos das senhoras, por muito desacertados que elas tenham os relógios, que elas tenham a vida.
Licínia Quitério
A louca de Chaillot - foto da net
A louca de Chaillot - foto da net
1 comentário:
Tão triste e tão belo ao mesmo tempo. Envelhecer com uma certa dignidade não é mesmo para qualquer um...
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