A bancada a abarrotar de peixe
fresquíssimo, na loja do bairro onde supostamente habita gente de vidas
desafogadas, talvez afortunadas. Fim de manhã, o mês ainda não chegou ao meio e
zero de clientela. É assim invariavelmente naquela e nas outras lojas do mesmo
bairro. Eu digo: Tanto peixe e tão bonito. Ela diz: E tão poucos clientes. Logo
acrescenta: E dizem que as coisas estão melhores, mas não vejo nada. E
continua: Nem me posso queixar, lá vai dando, mas as praças estão todas a
fechar, é uma tristeza.
Comam peixe, comam, com ómegas
um, dois ou três que ninguém sabe o que é, mas toda a gente repete,
obedientemente.
Bendito mar que banhas esta costa
imensa, belíssima, que nos dás peixe fresco, tão fresco que vai morrer de
cansaço nas bancadas das lojas, das praças onde já ninguém vai. As
"superfícies", grandes e médias, ah essas alimentam-se bem, que lá
vão todos à procura das promoções, dos cartões, dos saldos, das linhas brancas,
do que houver à medida dos desejos, à medida do cartão de crédito, generoso, a
cobrar uns jurozitos de somenos, para alegria de quem o exibe, às vezes até gold, como os vistos.
Um país, muitos países de opereta em colectividade de
bairro.Licínia Quitério
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