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16.3.15

PEIXE FRESCO



A bancada a abarrotar de peixe fresquíssimo, na loja do bairro onde supostamente habita gente de vidas desafogadas, talvez afortunadas. Fim de manhã, o mês ainda não chegou ao meio e zero de clientela. É assim invariavelmente naquela e nas outras lojas do mesmo bairro. Eu digo: Tanto peixe e tão bonito. Ela diz: E tão poucos clientes. Logo acrescenta: E dizem que as coisas estão melhores, mas não vejo nada. E continua: Nem me posso queixar, lá vai dando, mas as praças estão todas a fechar, é uma tristeza.
Comam peixe, comam, com ómegas um, dois ou três que ninguém sabe o que é, mas toda a gente repete, obedientemente.
Bendito mar que banhas esta costa imensa, belíssima, que nos dás peixe fresco, tão fresco que vai morrer de cansaço nas bancadas das lojas, das praças onde já ninguém vai. As "superfícies", grandes e médias, ah essas alimentam-se bem, que lá vão todos à procura das promoções, dos cartões, dos saldos, das linhas brancas, do que houver à medida dos desejos, à medida do cartão de crédito, generoso, a cobrar uns jurozitos de somenos, para alegria de quem o exibe, às vezes até gold, como os vistos.
Um país, muitos países de opereta em colectividade de bairro.

Licínia Quitério

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