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3.11.14

O POETA



De vez em quando, gosto de tomar café numa mesa junto ao Poeta, aquele que em bronze e de perna traçada permanece impávido perante a turba que lhe vem polindo a aba do chapéu, o joelho, o ombro, o sapato. Diz que não é nada, nunca será nada, e não entende o entusiasmo pelo boneco que uns dias é Fernando, outros Álvaro, outros Alberto, outros Ricardo, e até Bernardo, e outros, e outros, que do fundo da arca só ele sabe. Gosta de ouvir a rapariga que canta na rua e depois pede uma moeda no chapéu revirado. Adivinho-lhe um trejeito de comiseração, pobre pequena, cansou-se de comer chocolates. Um par muito jovem dança, ali em frente dele, em frente de toda a gente, corpo contra corpo, ao ritmo da música da viola do rapaz que toca para a rapariga que canta e que depois estende o chapéu e que sorri, sorri sempre. Dançam, apaixonadamente, sem darem por ninguém e sem que ninguém dê pela felicidade que vão desenhando no mover das ancas, na clara luz dos rostos. Só o Poeta pensa, quem lhe dera no tempo em que escrevia sem dar por isso cartas de amor. 
Por instantes, lembro o seu amigo Mário que nos cafés esperava a vida. Não fico à espera, vou ali mais abaixo, entregar saudades do Poeta ao rio que corre na minha aldeia.

Licínia Quitério

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