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6.11.13

TEJO



Dos Pirinéus não se vê o Tejo. Digo eu que não subi ao alto mais alto dos altos montes. Tão pouco se vê quando tão baixo se vive. O mundo fica todo muito pequeno, inteirinho ao alcance da mão, do olhar. Dizem-me: os Pirinéus ficam ao fundo da rua, mas da minha mão ao fundo da rua é tão longe que eu fico a acreditar no que me dizem e não vou até lá ver os Pirinéus. Dizem-me: dos Pirinéus não se vê o Tejo e eu acredito. Acredito porque nunca subi ao monte mais alto entre os mais altos donde provavelmente se vê o Tejo. Nem sequer irei ao fundo da rua olhar os Pirinéus que, acredito, lá estão esperando por mim, sabendo que não irei. Bem melhor é ficar aqui, no nascer da rua, a ver a chuva cair e um rio a crescer, envergonhado, com vontade, esse sim, de chegar ao fundo da rua e dizer aos Pirinéus que lá do alto mais alto poderão avistar um riozinho seu irmão, a correr à procura de um país onde lhe chamem Tejo. Os Pirinéus vão acreditar no riozinho nascido na minha rua porque pensarão que ele sou eu nos meus tempos líquidos de correr montes e vales e me deitar no Tejo como em cama de nuvens de cidade muito amada. Dela me lembro agora, no meu tempo opaco de ficar e de olhar e de dizer Tejo como quem diz Vida. 

Licínia Quitério

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