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17.11.13

NEVE




Caiu neve na serra. É o que ela diz, acrescentando açúcar no café, com a lentidão da manhã enfiada nos dedos. Queria dizer mais coisas, outras coisas, mas a frase saiu com um ponto final e ele não é homem de continuar um texto, de o ajudar a não morrer assim, seco, impertinente. Tem o jornal para ler e, na sua importância de leitor, fecha-se ao mundo, fecha-se à voz dela, que outra atenção não merece, que ela costuma demorar-se em oratórias, enquanto bebe o café, enquanto toma duche, enquanto faz amor. São assim as mulheres, é o que ele afirma, passado o viço, passado o vício. Falam e só para elas falam, no desfiar de lamentos, de  toadas dos tempos de embalar, dos tempos de dançar, dos tempos do viço, do vício.
Se caiu neve na serra, se o filho não apareceu, se a outra não fala, só sorri, se o outro acrescenta frases às frases dela e sorri, se tudo há-de ter seu caminho e foz, é porque a hora virá de a neve derreter, de se querer lago e afogar.

Licínia Quitério

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