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13.6.11

O SENHOR POETA



Eu era muito, muito pequena, quando ia almoçar com os meus pais ao restaurante "Irmãos Unidos", no Rossio. Um quadro enorme na parede atraía os meus olhos de criança em descoberta. Um senhor, pintado aos quadradinhos, com os pés curiosamente traçados por debaixo da mesa em que escrevia. E havia o chapéu, tão parecido com o do meu pai, talvez também comprado ali ao lado, na Chapelaria Rua. Explicaram-me que o senhor se chamava Fernando Pessoa e era poeta. No restaurante havia um senhor que tinha de apelido Guisado e que conversava com o meu pai num outro lugar, lá dentro. Era tudo muito engraçado naquele sítio. Durante muitos anos não voltei a ver o quadro com o senhor pintado aos quadradinhos.

Quando o reencontrei, lembrei-me da almofada de couro preto que me punham na cadeira para eu chegar melhor à altura do prato e contemplar o senhor poeta.


Licínia Quitério

2 comentários:

M. disse...

Engraçado como este teu texto é a expressão real do que uma criança pensaria e diria. Espantoso como por vezes a nossa memória guarda o que nos impressionou de modo tão intacto. A distância em tempo e lugares não interfere.

José Carlos Brandão disse...

Muito interessante.
Bem que gostaria (em Portugal se diria "Bem que gostava"... Por que temos que ter essas diferenças de modo de dizer? Palavras diferentes vá lá, mas a sintaxe, e uma certa sintaxe sentimental...) de ter visto - e ver quando criança é um superlativo do ato de apreender as imagens - esse quadro com esse senhor aos quadradinhos. Há muita poesia nisso.

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