
Abdul conduziu-nos a um chá num oásis no limiar do deserto. Talvez lhe chame oásis porque havia árvores e tanques com água e pássaros cantadores. Porque no limiar dos desertos tem de haver um chá e a tenda em que ele fumega. Na tenda tem de haver tapetes e almofadas e cheiro de menta. Por todo o lado a simetria dos desenhos e a cor escandalosa do açafrão só acalmada pelo verde negro das palmeiras do anoitecer. Ah e a música e os requebros do ventre e o choro-cante a ecoar nas nossas antigas oliveiras. Por toda a parte os belíssimos olhos negros de Ali-Babá e de Moriana. Ou de Abdul, com um joelho avariado a por-lhe um pequeno soluço na voz a cada degrau transposto. Breve passagem por um cenário de faz-de-conta em que tudo nos é dado como certo excepto o soluço escondido na voz de Abdul, o nosso guia.
Licínia Quitério
3 comentários:
Era mesmo este cenário que eu precisava hoje, para esquecer por momentos a chuva implacável a provocar-me,a tamborilar os seus dedos frios ali em cima nas clarabóias. Eram estes cheiros profundos a especiarias, eram estas cores quentes, era esta voz doce.Mesmo apenas cenário.
Vou fazer um chá...:))
Licínia,
fazes-me viajar no tempo.
[Para que seja mais fácil a visualização deixo-te um link encontrado mesmo agora, para o efeito.
http://psantos4.blogspot.com/2008/05/cascatas-douzoud-marrocos.html ]
Descemos alegremente até às águas que nos banharam e horas depois, quando a chuva rompeu a claustrofobia do calor e os relampagos nos visitaram, subimos de novo o monte, entoando o "Singing in the Rain"...numa curva, um pequeno quintal com três mesas no meio dos canteiros repletos de menta. Foi a casa de chá mais naiff que conheci e, e contudo, a que me deu a beber o melhor chá de menta...
Era um pequeno quintal, debruçado sobre as cascatas, de chão de lama e oliveiras em muro...
E já viajei hoje contigo :)
bEIJOS
Creio que ainda não tinha vindo a este sítio.
Mas hoje... talvez por já ser Primavera...
decidi dar uma saltada.
Também apreciei este seu blog.
Bjs
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