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2.1.09

AN EYE FOR AN EYE




Fiquei a escutá-la. Tem um nome de que desconheço a pronúncia. Tzipi Livni. A pele é branca e o cabelo mostra-se loiro. É uma mulher do meu mundo a que chamam ocidental. A terra dela fica na linha fronteiriça de muitos ódios. Terras vizinhas de deuses e de profetas e de disputas sangrentas por água e terra e pastagens e camelos e oleodutos e mísseis. Berço de civilizações, diz-se. A mulher tem filhos crescidos. A mulher notabilizou-se na perseguição e aniquilação de inimigos. São inimigos dela, dos pais, dos avós e de todos os avós de toda a sua gente. A mulher tem uma inteligência aferida em 150 não sei que unidades. A mulher chefia, praticamente, a sua nação que está desde sempre em guerra. Com todo o interesse aguardei a sua comunicação sobre a guerra desta semana. Foi quando me apercebi de que tem dificuldade em articular certos sons. A língua avança demasiado e os dentes demoram em descerrar. O som produzido é semelhante a um silvo. Nesse preciso instante, há um estremecimento no rosto de maxilas largas. Só os olhos não denunciam a dificuldade, a imperfeição. São olhos parados, secos, esquecidos das pálpebras. A mulher acabou de afirmar que a guerra continuará e se intensificará até à destruição do inimigo. É ela quem ordena. Avisa que morrerão inocentes. Como em todas as guerras, explica. Retira-se, com o olhar sem pálpebras.

É uma mulher do meu tempo, do meu mundo chamado ocidental. O seu destino é a vingança.


Mahatma Gandhi disse, na língua dos seus inimigos: An eye for an eye makes us blind. Não sei em que unidades se poderá aferir a inteligência do seu coração.


Licínia Quitério

imagens Google

8 comentários:

bettips disse...

Eu vi. Horrorizei-me tanto como se atrás do silvo viesse um cogumelo atómico.
Como é possível?
Bj

Justine disse...

Não vi, mas posso imaginar, pelo teu texto, o tipo de mulher. Mulher?? E para onde foi a humanidade?

mena maya disse...

Que excelente espírito de observação, Licínia!

Foi mesmo assim como descreves!

Uma senhora da guerra, com um coração j«a cego pelo ódio!

Teresa David disse...

Não vi, mas, realmente a tua mestria nas palavras é tanta, que no teu texto visualisei a "criatura".
Bjs
TD

M. disse...

Vi e também senti, mas sem palavras, o que aqui dizes tão bem.

Nina Owls disse...

a guerra deve ser uma espécie de ópio que no inicio mostra novos horizontes e depois oscila entre a intoxicação e o ódio de si mesmo, aplacado nos outros. Tal como o amor causa dependência, acredito que tb o avesso o faça. É um ir sem retrocessos até atingir a vingança. An eye for an eye literalmente.
Muito bem feita a descrição da senhora no seu momento de antena vazio.

Arábica disse...

Não vi e também há demasiado tempo que aqui não vinha, a este soutro sitio, tão importante...

Parece-me que já não há distinção entre os sexos das pessoas. Cada vez mais arrepia-me a ideia (cada vez mais consistente) que apenas se dividem em dois grupos: as que buscam o poder e as que buscam o amor.

Acredito no poder do amor, que afinal é tão contra-poder.

Acredito no poder do amor, num tempo em que a paz jaz nas mãos dos que possuem o poder...

Este mundo dá-me frio.
Cansa-me. Destroi-me a esperança.
E todos os dias, recomeço o crochet, no ponto onde o mundo, na véspera, o parou de desmanchar...

Abraço de sábado à tarde.

A Lusitânia disse...

Olá, felizmente não faz mesmo parte das mulheres da minha vida. Há quanto tempo não nos visitávamos. Mas gostei tanto der cá vir.

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