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14.1.14

PENÉLOPE


Era dia e Penélope tecia. Esperava e tecia e a idade crescia. E a raiva crescia e a cama vazia e a cidade vazia. Quando a noite chegava, a teia minguava, Penélope chorava, na cidade chovia. Ulisses navegava, Ulisses naufragava, Ulisses não cuidava, Ulisses não sabia, Ulisses não voltava e a teia não crescia. Outro esposo Penélope não queria, outro rei, outra lei a cidade não queria. Ainda ela tecia e Ulisses voltou e ninguém reparou como Ulisses mudou, como Ulisses sofria, como Ulisses chorou. Só o cão o cheirou, só o cão se deitou na velhice de Ulisses. Era noite e a teia encolhia, e outro dia haveria de a teia terminar, de Ulisses regressar ao seu trono vazio, às mãos da tecelã, sem tecer, sem tecer,  a mirar, a mirar, a velhice de Ulisses, o cansaço de Ulisses, o cão fiel de Ulisses. Na cidade chovia.

Licínia Quitério

2 comentários:

Anónimo disse...

Se o cão chorou, é porque tinha motivos para chorar!

Licínia Quitério disse...

Anónimo (a),

Não volto a publicar comentários seus. Além do seu anonimato não dizer bem de si, não sabe ler os meus textos. Desista, neste blog ou noutro ou em qualquer outro lugar. O seu destino será sempre o contentor do lixo, como merece.

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