Era dia e Penélope tecia. Esperava e tecia e a idade
crescia. E a raiva crescia e a cama vazia e a cidade vazia. Quando a noite
chegava, a teia minguava, Penélope chorava, na cidade chovia. Ulisses navegava,
Ulisses naufragava, Ulisses não cuidava, Ulisses não sabia, Ulisses não voltava
e a teia não crescia. Outro esposo Penélope não queria, outro rei, outra lei a
cidade não queria. Ainda ela tecia e Ulisses voltou e ninguém reparou como
Ulisses mudou, como Ulisses sofria, como Ulisses chorou. Só o cão o cheirou, só
o cão se deitou na velhice de Ulisses. Era noite e a teia encolhia, e outro dia
haveria de a teia terminar, de Ulisses regressar ao seu trono vazio, às mãos da
tecelã, sem tecer, sem tecer, a mirar, a
mirar, a velhice de Ulisses, o cansaço de Ulisses, o cão fiel de Ulisses. Na
cidade chovia.
Licínia Quitério |
2 comentários:
Se o cão chorou, é porque tinha motivos para chorar!
Anónimo (a),
Não volto a publicar comentários seus. Além do seu anonimato não dizer bem de si, não sabe ler os meus textos. Desista, neste blog ou noutro ou em qualquer outro lugar. O seu destino será sempre o contentor do lixo, como merece.
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