Era uma vez
uma jovem nêspera,
nascida e
crescida
por entre a
folhagem
verdinha,
fresquinha,
dos ramos
ramudos
da grande
nespereira,
plantada e
criada
no velho
quintal
da nossa
vizinha
chamada
Belinha.
À custa da
seiva
da sua mamã,
a nêspera engordou,
cresceu e
corou.
Dava gosto
vê-la.
Não, nenhuma
irmã
tinha a pele
assim
tão lisa e
suave.
Parecia
cetim.
De tanto
crescer,
de tanto
engordar,
conseguiu
espreitar,
sem se
debruçar,
por cima dos
muros
do velho
quintal
da nossa
vizinha
chamada Belinha.
E que viu a
nêspera
bonita,
gordinha?
Do lado de
lá,
pousada no
chão,
juntinho ao
portão,
redonda e
amarela,
muito
gorduchinha,
uma nêspera
bela,
bem maior do
que ela.
Uma prima,
talvez.
Tamanha foi a
surpresa
que se pôs
logo a pensar,
a sonhar, a
matutar.
O seu destino
era lá
ao pé da
prima gordinha,
tão forte,
tão bonitinha.
Uma nêspera a
valer!
Espiou pelo
canto do olho
as irmãs
enfezaditas,
escondidas, a
bem dizer,
naquelas
folhas folhudas,
naqueles
ramos ramudos
da nespereira
do quintal.
Não!
Não tinha
nada que ver
com nêsperas
descoradas,
talvez mesmo
envergonhadas
por não
saberem crescer,
encorpar,
arredondar,
para que
alguém desejasse
trepar os
muros de pedra
do simpático
quintal
da nossa
amiga vizinha
e as poder
admirar,
cheirar ou
mesmo tocar.
Pensou,
pensou, repensou
e chegou à
conclusão:
Estava ali
por engano.
Foi então que
decidiu
mudar de vida
de vez.
À custa de um
bom esticão,
largou o ramo
ramudo
da nespereira
folhuda e
sem dizer
nada a ninguém,
saltando o
muro velhinho,
estatelou-se
no chão,
(com a polpa
amachucada,
por causa do
trambolhão)
junto da
prima gordinha
pousada atrás
do portão.
Num instante
percebeu
o engano em
que caíra.
A abóbora
gordinha
de nêspera
nada tinha.
E o pior
aconteceu
quando, num
riso de troça,
a abóbora
amarela,
muito maior
do que ela,
disse, bem
alto e bom som,
para que toda
a gente ouvisse:
Volta para
casa, maluca,
para o pé das
tuas irmãs,
antes que se
abra o portão,
por ele entre
um camião,
trazendo um
homenzarrão,
mais feio que
muito bicho,
que a mim me
transforme em doce
e a ti te
jogue no lixo!
Licínia
Quitério
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