Site Meter

26.11.17

A SECA



A seca é real, palpável, triste. A gente lê os jornais e percebe que há animais a morrerem de fome, outros não se reproduzem, outros abortam, adoecem, porque sem água não há pasto. Os peixes não conseguem subir os rios porque estes não levam água que chegue e não farão a reprodução. Os pescadores de rio perdem os seus proventos, tal como os barqueiros de travessia, porque os rios se atravessam a pé. Da torneira continua a correr água, no supermercado continua a haver hortaliça, e nós, os urbanos do litoral, somos levados a acreditar que há nisto tudo um exagero, que a chuva há-de vir, que não há-de ser nada. Que sabemos nós da Natureza, da Vida? Há muito que esquecemos. Talvez os vindouros tenham que reaprender o que esquecemos, na melhor das hipóteses.

Licínia Quitério

23.11.17

NOITE


O rodado dos carros na rua produz agora um ruído abafado, a evidenciar a lâmina de água que se interpõe entre o asfalto e a borracha. De o ouvir, adivinhamos os salpicos que vão saltando das rodas. Se alguém passar na berma dos passeios, talvez os sinta nos pés, no fato, e se afaste a evitar o incómodo. A luz dos faróis acende a poalha de chuva que vai caindo, oblíqua, mansamente. Os habitantes dos carros entrarão em casa desejosos de conforto, de lume, de comida cheirosa. Calçam chinelos, esfregam as mãos e dizem, até que enfim a chuva. São felizes os humanos que neste momento imagino. Tem de haver gente feliz para que as histórias não morram.

Licínia Quitério

Acerca de mim

Também aqui

Follow liciniaq on Twitter
Powered By Blogger
 
Site Meter

Web Site Statistics
Discount Coupon Code