Não lhes resisto. Não duram, dizem-me. Eu sei. Hoje são botões perfeitos, rigor de forma e de cor, beijos de juventude, sorrisos de infante, piscar de olhos da perfeição. Não devia, mas colho-os. Um, só mais outro, outro ainda. Há-de haver uma casa dos botões do meu vestido que os recebe. Pingos de garridice no meu tempo de tantas rosas. Logo mais terão uma pequena taça com água que os acolhe, os compensa de um mau trato por amor. Vejo-os abrirem as múltiplas pétalas, espreguiçarem-se em círculos cada vez maiores. Enchem a taça. Deixaram de ser botões. São flores. Chegaram à idade adulta, numa pressa de adolescentes. Amanhã serão velhas e as pétalas enrugadas, desbotadas, cairão sobre a mesa. Demoro a deitá-las fora e o meu ligeiro remorso de as haver colhido amolece com o perfume leve que persiste nas madeiras.
Licínia Quitério
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