Vivem do ar, têm folhas duras, aguçadas, de cor acinzentada, como se estivessem numa morte latente, durante parte do ano. Mal nos damos conta de que se multiplicam, em novos tufos que, se os desprendermos dos fios quase inexistentes que os ligam à mãe, por sua vez se multiplicam. Chamo-lhes "craveiros do ar", expressão que herdei da minha Avó que os tinha pendurados nos ramos da grande pereira de "peras pardas". Depois de minha Mãe, chegaram até mim e vivem suportados por uma rede de plástico. Hoje surpreendi-os com a primeira flor. Apenas ainda um botão que se desenvolverá numa longa inflorescência, galante de vermelhos e azuis. São uma excentricidade, uma fuga à regra, uma interrogação, uma prova de sobrevivência conquistada na parcimónia, na discrição. No meu jardim minúsculo não há só vasos. Também há milagres.
Licínia Quitério
Sem comentários:
Enviar um comentário