vamos, meu irmãozinho. estão todos à nossa espera.
vês aquela menina loira, de perninhas longas, prontas para o grande caminho? vai escrever quatro páginas sobre o pôr-do-sol.
eu cresci muito antes de ti, mas tu ficaste maior do que eu. por necessidade. as ameixas do vizinho eram mais amargas do que as tuas e o muro alto, alto…
és tão desafinado! porque teimas em cantar a internacional?
vamos depressa, mano, o pão tem de chegar cedo à tasca da aldeia.
depois comeremos sandes de atum e beberemos carrascão.
não, as contas fazes tu e eu escrevo o nome dos fregueses, a rimar.
empresta-me os teus óculos onde escondes o segredo da raiz de dois.
ao menos hoje, pára de falar no homem novo. não vês que estamos velhos?
hoje é dia de comermos o gamo, criado na tapada e imolado no altar da nossa infância.
não, não vais dizer o cântico negro. hoje sou eu que digo.
quando eu morrer, tu o dirás comigo.
LICÍNIA QUITÉRIO
Sem comentários:
Enviar um comentário