Ouvi o silvo tentador, ao longe, depois mais perto, mais
perto. Um assobio, uma chamada, uma música de sílabas poucas. Pensei nos seus
pés de cabra, no seu erguer de bicho-homem, poderoso, ameaçador e triste, tão
triste. De que fogem as ninfas neste bosque sombrio, gotejante, com odores do
princípio dos mundos? Do bicho-homem que as seduz, forte e hirsuto, débil como um canavial de
outono, chamando um amor perdido com a flauta em que transformou a fala, essa
rouca e agreste, desamparada e inútil.
Acordei tarde, ao som do amola-tesouras que passou na rua, procurando sustento, prolongando as chuvas.
Acordei tarde, ao som do amola-tesouras que passou na rua, procurando sustento, prolongando as chuvas.
Licínia Quitério
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