Mal nos conhecíamos. Só tínhamos aquele conhecer por outras
bocas, aquele saber de morar no mesmo sítio sem nos cruzarmos, aquele nada que
sendo essência se fazia distância. Poderíamos ter vivido e morrido sem nada
mais termos um do outro, um para o outro, sem nada mais que nos sabermos do
mesmo lado, como
tantos outros que entre nós e de nós falavam. Teria sido assim, sem mais
notícia, sem mais prazer, sem mais pesar. Não fora Abril e não nos teríamos
encontrado, de súbito, nos lugares mais claros que alguma vez teríamos sonhado,
nós que vivíamos a sonhar com o fim da escuridão. Não precisámos que nos
explicassem porque estávamos ali, naqueles dias, olhando-nos como se sempre nos tivéssemos olhado,
olhando-nos com o falar ansioso da longa espera, sabendo exactamente o que nos
cabia fazer. E foi tanto o que fizemos que nunca pudemos parar de nos olhar
falando, na alegria e na tristeza, como
se diz de quem se ama. Não fora Abril e eu não saberia.
Licínia Quitério
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