Apuram os
sentidos, a reconhecer o território. Afagam o tronco de uma árvore, olham a
copa e, se fosse da sua natureza, trepariam e ficariam muito serenos, deitados
no garfo de dois ramos jovens. Esmagam nos dedos uma folha de lúcia-lima e
cheiram-na, aspiram-na, com sensualidade disfarçada. Pontapeiam uma pinha caída
no saibro do caminho, para depois, mais adiante, a apanharem e a arremessarem.
Como um gato faz com um novelo. São solitários. Evitam cruzar-se com outros
exploradores. Procuram caminhos diversos. Debruçam-se nos lagos, molham as
pontas dos dedos e não as enxugam. Às vezes passam-nas no rosto. Espiam os
pássaros, detêm-se, para não os assustarem.
Os gatos, esses, aparecem de noite. É o seu tempo dos parques. É também o tempo
de muitos outros bichos que viram os homens sem serem vistos. Dos mistérios dos
parques só os gatos sabem. Nunca os revelarão. Os poetas sabem disso, mas
continuarão a deslizar nos parques, imitando os gatos. Na esperança de um dia
saberem ler o que eles trazem inscrito nas pupilas.
Licínia
Quitério
1 comentário:
Desde que se queira, também com um gato se aprende. :-))
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