A chinesinha estende a mão pequena com unhas postiças, atravessadas de motivos verde e prata, e diz: "o talãozinho". Não faço ideia se em mandarim há diminutivos, mas fiquei a pensar nesta mulher que aprende a falar a minha língua com os clientes e que com eles reparte sonoridades estranhas, do seu "in" alongado e estridente ao nosso "an" interrogativo e abrutado. Negócios à parte, se é possível assim dizer neste mundo mercadejado, os chinos e os portugas lá se vão entendendo, no balcão das lojas-barafunda, trocando consoantes e vogais, alguns sorrisos tímidos, desconfianças e uns arremedos de ternura. A portuguesa diz-lhe "minha querida", ela arredonda a obliquidade dos olhos e dá-lhe "o talãozinho". Ninharias, coisas pequenas, pequeninas, diminutas.
Licínia Quitério
2 comentários:
Delicioso o pormenor "ela erredonda a obliquidade dos olhos".
Com voz doce conseguem fazer o seu negócio.
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