Mira-nos do alto do muro e os olhos em fresta dizem uma antiga desconfiança sobre a bondade dos humanos. Convive bem com os pombos e as gaivotas, companheiros de beirais e chaminés, respeitando-se mutuamente na escolha de domínios. Os bichos de asas voadoras causam-lhe uma certa inveja. Porque vão mais alto onde ele não se atreve e porque não têm dono que os tente dominar a troco de comida. Já tem uns anitos o gato preto no alto do muro branco. Vive agora confortado nos seus desassossegos desde que ouviu falar de um gato que terá ensinado uma gaivota a voar. Sente-se orgulhoso por assim se dizer do outro da sua espécie e é por isso que, nos olhitos em fresta, se acendem luzinhas verdes, à medida dos seus sonhos de gato.
Licínia Quitério
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