Não
conhecemos tudo o que guardam os nossos próprios sótãos.
Sabemos
de madeiras que revelam o cheiro das árvores-mães. Pensamos sândalo, ou cânfora ou pau-santo ou
outra palavra que aprendemos sem alguma vez termos sabido das florestas do
outro lado do mundo.
Nos
sótãos há poeiras várias que invadem os espaços, mesmo os que medeiam gerações.
Outras ainda não concluiram a queda e adejam contra a luz das frinchas do
telhado.
Nunca
chegamos a saber o que se guarda nas caixas mais ao fundo dos esconsos.
Desistimos de explorar esses lugares sombrios para melhor inventarmos restos de
amores impossíveis e histórias de heranças ferozmente repartidas.
Os sótãos
guardam os nossos segredos nunca revelados, em escaninhos inacessíveis a mãos
humanas, ao abrigo da mais insensata espionagem. Passado muito tempo, já nós
não recordamos o segredo que foi nosso e mora dentro da caixa soterrada em
mantos sucessivos de poeira lá onde não chega a luz coada pelas frinchas do
telhado.
Falar de
sótãos não será o mesmo que contar passados, embora a poeira seja igual,
permanente, persistente.
Licínia Quitério
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