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7.9.24

OS SÓTÃOS

 

Não conhecemos tudo o que guardam os nossos próprios sótãos.

Sabemos de madeiras que revelam o cheiro das árvores-mães.  Pensamos sândalo, ou cânfora ou pau-santo ou outra palavra que aprendemos sem alguma vez termos sabido das florestas do outro lado do mundo.

Nos sótãos há poeiras várias que invadem os espaços, mesmo os que medeiam gerações. Outras ainda não concluiram a queda e adejam contra a luz das frinchas do telhado.

Nunca chegamos a saber o que se guarda nas caixas mais ao fundo dos esconsos. Desistimos de explorar esses lugares sombrios para melhor inventarmos restos de amores impossíveis e histórias de heranças ferozmente repartidas.

Os sótãos guardam os nossos segredos nunca revelados, em escaninhos inacessíveis a mãos humanas, ao abrigo da mais insensata espionagem. Passado muito tempo, já nós não recordamos o segredo que foi nosso e mora dentro da caixa soterrada em mantos sucessivos de poeira lá onde não chega a luz coada pelas frinchas do telhado.

Falar de sótãos não será o mesmo que contar passados, embora a poeira seja igual, permanente, persistente.


Licínia Quitério


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