É antigo, o espelho, mais antigo do que eu. Ganhou uma moldura nova, como se fosse antiga. Um espelho maculado pelos muitos anos, pelas muitas imagens que produziu. Mirei-me nele quando pequena, insistentemente, obsessivamente, intrigada com a falsa simetria que fazia esquerda a minha mão direita, aproximando-me até ver crescer a condensação da minha respiração, em círculo de minúsculas gotículas, em redor da imagem da minha boca em beijo. Olhei-me hoje, de novo, no espelho que reganhou lugar de dignidade. As suas margens, de aristocrático biselado, reproduziram imagens múltiplas de pedaços de mim, uma fantasia virtual, eu, como Alice, do outro lado, o meu braço esquerdo como se fosse direito, afinal só eu mudei, o espelho firme nas suas convicções.
Licínia Quitério
Licínia Quitério
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