O que eu penso, o que eu sinto, o que eu sei ou não sei, o
que eu digo ou não digo, não se encerra naquele corpo que me coube na lotaria
dos genes. A outra coisa, a inviolável, a única, a que não tem dimensão, a que
voa sem asas, a que chora sem lágrimas, a que vai e sempre fica, a que é e não
é, a que ainda está mas já não está, essa coisa que, dizem, fala e ri com
aquele corpo, que resiste, que luta, que envelhece, essa coisa, fantasma de
mim, é o que procuro naquela foto, e na outra e na outra que teimo
em olhar, em olhar, até ao esquecimento.
Licínia Quitério |
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