Um desaforo! era o que diziam as mulheres de negro esconjurando a impertinência do vento súbito pela tardinha. Desrespeitador, desarrumador de formas e de cores, para não falar dos lugares, num ápice despidos ou vestidos do que há pouco se supunha estável, imutável, a bem dizer eterno, na medida da humana perenidade. Voa o que não tem asas e sobe, sobe, para logo poisar em qualquer campo, em qualquer degrau, em qualquer fenda, na cova mais funda das covas fundas, no píncaro dos píncaros, no bolso do avental negro das mulheres de negro. Ah vento ruim! diziam os pescadores de mar roubado, com olhos arregalados como os dos peixes há muito perdidos. Vento dum cabrão! rosnava o Jacinto Coxo agarrado ao pau de fio que para ali ficara, tão sem préstimo como a sua perna definhada.
Clarisse afastava a cortina e deixava um leve, leve sorriso seguir o redemoinho das folhas das tílias. Estás tão despenteado! e não era do vento que falava.
Licínia Quitério |
1 comentário:
A beleza das coisas. Assim. um conforto ler-te.
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