Ouvi-as descer a rua, em obediência a um vento leve que anuncia dezembro. Um fervilhar sobre o asfalto, um arrastar de papel amarrotado, um quase impercetível silvo de réptil muito antigo. O meu plátano despe-se, reduz-se, enquista os sonhos de verão na mornidão das seivas e manda-me os recados anuais, nas folhas que roçam as sombras da minha porta. Abro e dou-lhes guarida na cesta do costume, onde se aprestam madeiras e pinhas para o fogo que virá, ainda que há muito extinto. Sairão as do ano passado, enrugadas, descoloridas, cansadas. Fico eu e as madeiras e as pinhas e as folhas novas e a lembrança das folhas velhas e a espera das outras a que hei de chamar novas, na voz redonda com que digo o tempo.
Licínia Quitério
1 comentário:
Tão bonito este mundo guardado em cestos, Licínia!
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