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23.12.24

A RAPARIGA E O NATAL

Era uma rapariga um pouco estranha. Não gostava de festejos de Natal. Se pudesse fugia naqueles dias, mas não podia. Convidavam-na para uma consoada, e ela, que não acreditava em nascimentos divinos, inventava maneiras de corresponder ao convite, de não ofender as pessoas, carregadas de boa vontade. Tanto quanto conseguia, transformou o Natal numa espécie de carnaval, fez-se personagens diversas, de filha do pai natal a rena. Os miúdos achavam esquisito, os adultos pensavam, ela tem piada mas fica um bocado ridícula. No seu papel de alien natalício, faziam-na distribuir os presentes, os infindáveis, incomensuráveis, intragáveis presentes e agoniava-se com o interesse guloso dos graúdos pelas bugigangas, pelo preço das bugigangas, pela falta de originalidade das bugigangas.

Foi assim até que as crianças cresceram, poucos adultos cresceram, alguns adultos desistiram, outros convivas vieram, e a rapariga um pouco estranha, que se fez uma idosa mais estranha ainda, mudou de consoada, de convivas. Deixou de se inventar em carnavais fora de tempo, abrandou excessos, como fazem as pessoas normais. Prepara o natal da transparência.



Licínia Quitério

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